[texto de Túlio Mattos]
Acho que não vai dar para começar esse texto sem falar da pandemia. Uma falta de originalidade danada, né? Estando ainda no ano da pandemia (vamos chamá-lo assim para que o próximo fique sem graça de ser também) é realmente chato, mas acho que esse excesso monotemático faz a gente ter a certeza de que não tem ninguém feliz com essa situação e, talvez, pelos nossos registros de insatisfação resistente, as pessoas do futuro até nos considerem razoáveis apesar dos pesares. Quem sabe? Não sei a quem estamos tentando impressionar, mas torço para que à gente boa. Além do mais, anda inevitável torcer pelo futuro e cavucar o passado enquanto o presente é simplesmente confuso. Não acho que isso seja privilégio de 2020. O presente é o mais confuso dos tempos. Por ele, se prolongam e encerram coisas que têm cara de definitivas como o sempre e o nunca. O presente é um ponto de vista que ainda está em situação de análise e, por isso, tempo está na boca do povo cansado de ver paredes.
Sem ter nenhuma noção disso, o Coletivo Refazenda definiu, no fim de fevereiro, que o mote da quinta edição da Recria Cine, nossa mostra de cinema para crianças e adolescentes, seria uma viagem no tempo. Passaríamos por cinco eras até o fim do evento que acontece em julho: a era em que tudo começou, a da contação de histórias, desenhos rupestres e trocas de conhecimento, a da era fotográfica e dos registros, as questões do presente e o futuro que plantamos. De março pra frente vocês já sabem. Tá registrado nas nossas redes sociais a gente lançando indiretas para o universo dizendo: “se cê quiser, a gente quer também” ou “se não tiver Corona, vai ter Recria”.
Não foi desta vez que a Recria Cine salvou o mundo de uma pandemia, mas até que tem ajudado. Planejar uma mostra de cinema para crianças e adolescentes em uma escola da cidadezinha de Ervália, não poder fazer por ser uma aglomeração das boas e seguir falando dele como parte da realidade que nos espera é, pelo menos, bonito. E o Refazenda é um coletivo formado por artistas, comunicadores, produtores e educadores, então o que a gente gosta, mesmo, de fazer é o bonito.
Bom, a mostra de cinema estava marcada para julho para aproveitar as férias escolares, mas passou tanto julho que até chegou setembro. Nesse momento, a gente já tinha entendido que o universo realmente andava com outras prioridades, mas é sempre melhor quando tem Recria do que quando não tem. Decidimos, então, que ela aconteceria. Tínhamos um monte, tínhamos a gente, tínhamos vontade, então tinha como fazer. Ela aconteceria como nós temos acontecido: em casa..
Foi ótimo. Com a Recria em Casa, a gente aproveitou até para puxar um Sarau da Tia Ló. Desde 2019 a gente não se encontra na porta da igreja para tirar da garganta música, poesia, rabisco e etcétera, então a vontade de fazer um descarrego anda grande. Aliás, que saudade da porta da igreja, hein? Aquilo é que é um palco. Além do sarau, como ação da Recria em Casa, nós fizemos pela primeiríssima vez um almanaque ilustrado e…
Inclusive foi dele que eu vim falar! Gente do céu, eu não tinha falado dele até agora, né? Nossa senhora… Bom, se tiver alguém lendo até aqui, é sobre o almanaque esse texto, tá? Me perdoa pela divagação longa, viu, pessoa? Viajar no tempo é uma experiência de catar grãozinho. Você vai ver quando baixar o material.
Pois bem, como eu falava desde o começo e todo mundo aqui é testemunha disso, pela primeira vez nós fizemos um almanaque ilustrado e ele, como o ano, veio com o título “Uma viagem no tempo“. A proposta dele é ser um portal que cabe nas mãos e cavuca o passado que segue ecoando nas linhas do Sempre, plantar o futuro com as mãos de hoje e deixar registrado que mãos são essas que o plantaram. Quando eu digo plantar, é no sentido literal. O material foi entregue às turmas de quarto e quinto ano das escolas municipais de Ervália acompanhado de uma folha de papel semente, instruções de como plantar, indicações para desenhar o desenvolvimento da plantinha e espaço para escrever uma carta a ela ao longo de uma sessão chamada Cavucar e Semear. Ai, Recria…
Foi um trabalho feito por várias mãos de realizadores da Recria Cine que compõem o Coletivo Refazenda, o Portal Articularte e do grupo de teatro Catarse. Ervália anda num momento muito interessante para a arte porque há muita gente interessada nela.
No almanaque, também existe uma página que é um material devolutivo, assim juntamos mais pistas sobre o que é o tempo. Se quiser ajudar nessa missão, é só abrir o link abaixo. Nós desejamos uma boa viagem e até loguinho (tomara).
Baixe gratuitamente o Almanaque da Recria Cine – Uma viagem no tempo!